A alma que grita à beira do abismo
Salteá entre pérolas e porcos
Na solidão de seu abismo
Rumina entre o desdém e o ódio
Como viver sem?
pergunta-se a alma a beira do abismo
E como se viverá lá?
Retruca a voz que clama no deserto.
Acaso podereis viver dias e dias perdidos em um abismo? Ou, na mansão dos mortos habitarás?
Acaso a confusão entre mente e espírito pode resultar em algo bom? E podes vir algo bom do abismo?
Logo a alma pode estar no abismo e o corpo na esbórnia, porém a alma que está na sétima casa nunca se encontrará com seu corpo em outro lugar.
Logo, oh alma do abismo, o caminho que talvez queres negar te leva a prados verdejantes. Já o caminho que apraz a carne o leva ao abismo.
Mas não te preocupes alma do abismo, a todo tempo podes recomeçar. Basta voltar, juntar os fragmentos que outrora tiraram ti e reconstruir aquilo que ninguém conseguiu remover de ti por inteiro.
Pois uma vez selado em seu peito a chama esponsal da vida, selada estás e não há homem que possa vir a retirar.
Então siga pelos caminhos tortuosos e não tão afáveis, aqueles que outrora Te removeram o ânimo e a ambição da chegada, porém se a chama selada em seu leito alimentada for, as forças mais sublimes que existe te guiarão para o tão esperado fim.
E nesse fim, oh alma do abismo, não terás mais a pálida sensação de solidão, nem ruminará entre ódio e desdém, será exaltado em sua alma o belo, bom e afável a seus olhos e coração.
Assim a fagulha que ardia em seu peito se unirá à Chama Eterna em plena simbiose,
para então,
não serem mais dois
e sim,
eternamente um.